quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Tem coisa que abunda

Estava, ontem, pesquisando no Google quando me deparei com fato inusitado – aliás, bizarrice na Internet é coisa que abunda. Uma moça afirmava: “preciso muito ficar rouquinha até quinta-feira. Me ajudem, por favor!”. Queridos, a demanda da beldade, em si, já é incomum. Mas teve uma resposta que me soou estupenda. Sujeito dizia: “é só gritar dentro do vaso por 3, 4, 5 horas seguidas. Grita o dia inteiro, mas dentro do vaso, porque se você gritar perto das pessoas, elas vão te internar num hospital de loucos”.

Das duas, uma: ou ando muito besta, acima da medida, ou a necessidade da moça e a ajuda do amigo são engraçadas, porque eu me diverti. Verdade. Devo até ter ficado rouco, vitimado pelas minhas risadas que desconfio sem propósito... Pelo meu turno, a sugestão que dou à moçoila é bradar pateticamente, enfurecer-se, espernear-se, tentar chorar a todo custo e sem propósito, como anda fazendo Regina Duarte na refilmagem de “O Astro”. Interpretação sofrível, caricatural ao extremo, numa das piores novelas da história, embora desconheça todas as outras. Está de doer a pleura e tudo quanto é órgão e membrana que recebem o que é repulsivo... E aí, alguém me pergunta, com imensa perplexidade: “man, tu vês novela?” Eu devolvo: “é evidente que não, mas às 23:00 já tô em casa, pô, e a m*! da televisão, sem cabo, costuma ficar ligada”. Aí, danou-se.

Pois é, fica assim então. No dia que precedeu o de hoje, teve isso. No dia que agora me encontro, teve outra: liguei faz pouco para o meu filho mais novo – dezoitão, enorme, maior que eu –, pedindo que ele fosse ao cartório autenticar um documento, pois agarrado estava e agarradíssimo estou. O cara me respondeu: “ih, pai, vai dar não”. “Por que?”, indaguei, pensando tratar-se de preguiça. “Ah, porque tô numa caganeira mítica!” Pronto, a resposta já foi suficiente para me fazer rir outra vez. Caganeira mítica... Só meu filho mesmo...

Por falar em mito, desta vez fisiologicamente bem comportado, sem vasos e gritarias por perto, lembrei-me que a última coisa fabulosa, fantasiosa e rara que vi no cinema foi “Planeta dos Macacos: A Origem” (“Rise of the planet of the apes”, EUA, 2011). A versão atual, dirigida por Rupert Wyatt e protagonizada por James Franco, não se compara, nem por um milímetro, ao primeiro filme da série dos anos 1960/70, de título similar (“Planet of the Apes”, EUA, 1968, direção de Franklin J. Schaffner), estrelado por Charlton Heston e Roddy McDowall, que obteve sucesso estrondoso e várias continuações no cinema, gerando, ainda, uma boa série de TV. A última cena do filme de Schaffner, mostrando o desespero de Heston ao descobrir a verdade, é dos momentos mais emblemáticos e inesquecíveis da ficção científica no cinema.

Em 2001, também teve a variante de Tim Burton para o “Planeta dos Macacos” (“Planet of the Apes”, EUA), naquele que pode ser considerado o pior filme do talentoso diretor estadunidense. A versão atual consegue ser bem melhor. Por sinal, ninguém até hoje soube explicar como Burton se meteu em algo tão ruim...

A história de um mundo governado por macacos continua interessante, sobretudo quando sabemos que muito governante por aí consegue ser mais desumano que qualquer primata. Na verdade, chamar certas pessoas de macaco é ofender nossos amigos símios, dos quais descendemos.

Embora não seja filme de primeira, a refilmagem moderna da lenda vale como diversão. Serve, também, como reflexão – afinal, o único bicho com capacidade de ser cruel é o homem. Macacos, certamente, não cometeriam as atrocidades que vemos todos os dias.

Até a próxima.

domingo, 11 de setembro de 2011



"nos fios tensos
da pauta de metal,
as andorinhas gritam
por falta de uma
clave de sol"


(Secos e Molhados)


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O fluxo da vida como a lava de um vulcão

Um filme metafísico. Por mais que procure outras maneiras de compreender algumas questões presentes no enredo, não consigo alterar a primeira impressão que tive ontem ao assistir “A Árvore da Vida” (“The Tree of Life”, EUA, 2011). Com esta obra, o diretor e roteirista Terrence Malick retoma, de certa forma, a ideia delineada em outro filme de sua autoria, “Além da Linha Vermelha” (“The Thin Red Line”, EUA, 1998), embora este último tenha como assunto a violência absurda da II Guerra Mundial, durante a Batalha de Guadalcanal, travada entre norte-americanos e japoneses nas Ilhas Salomão, no Oceano Pacífico. Em ambas as películas, percebemos que um dos princípios desenvolvidos por Malick reside no fato de que a vida se movimenta, muitas vezes, devido meramente às circunstâncias. Todavia, mesmo neste contexto, cada um de nós tem capacidade de reflexão e poder de decisão. Desde a primeira frase de “A Árvore da Vida”, a ideia está presente. Diz a voz: “Existem duas maneiras de se viver: a maneira da natureza e a maneira da graça. Nós temos que escolher qual delas seguir”.

Esta dicotomia permeia a obra, constrói o discurso e traz sensações. É como se o ser humano pudesse escolher o seu caminho, mas isso não significa que ele esteja imune ao acaso. Desta forma, os combates bestiais criados pelos homens que, no outro filme, aterrorizam e destroem, são agora substituídos por desespero e inércia perante os eventos imprevisíveis, capazes de interferir na vida de qualquer um, causando, da mesma forma, sofrimento e frustração. Tudo isso pode parecer óbvio, mas Malick talvez queira, na verdade, refletir sobre a possibilidade destas coisas terem origens mais complexas do que parecem.

O enigmático diretor – avesso a entrevistas e aparições públicas – constrói momentos sublimes, que nada têm de “viajantes” e/ou pouco racionais, conforme comentários que escutei após a sessão. Tudo é pensado, refletido, espelhado, metaforizado e extraído de nossos medos e desejos. Sonhos plenos, individuais e inebriantes, como a maternidade, confundem-se com eventos gigantescos, como a formação de uma galáxia. E, embora pareçam fatos distantes, podem estar mais próximos do que imaginamos.

As relações familiares e as reflexões dos personagens de Brad Pitt, Jessica Chastain e Sean Penn mais parecem anseios paradoxais, na medida em que escutamos no decorrer do filme frases como “é preciso uma vontade feroz se quiser vencer na vida” e “guie-nos (Deus) até o fim dos tempos”. Ou seja, o homem pode escolher, mas não completamente, pois está inserido em algo muito maior que o próprio Eu. Nascer e morrer são fatos inquestionáveis, imutáveis, para a natureza, os animais, a raça humana e o universo. “Algum dia você vai cair e chorar. E então vai entender tudo. Todas as coisas”, diz Brad Pitt a seu filho primogênito, embora esta declaração pareça direciona a todos – ou almejada por todos.

A beleza das imagens e as conexões entre elas, estabelecidas pela montagem, som e texto, criam sentimentos particulares, que podem variar da ternura ao incômodo. Por isso, há quem termine o filme extasiado e há aqueles que o abandonam no meio do caminho. Os que aceitam as proposições de Malick e se deixam levar, ao meio e ao cabo, são presenteados com a reflexão mais arrebatadora da obra: “a não ser que você ame, sua vida passará com um flash”.

É isso. Sem mais para o momento, despeço-me. Até a próxima.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Nastassja Kinski

 
sem comentários...  
 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vamos falar na tora, sem tabu!


Embora o tempo passe e as décadas avancem, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais... Não se assustem com final da frase anterior, roubada do Belchior, aqui utilizada longe do contexto musical imortalizado na voz da Elis e, ao mesmo tempo, repleta de conteúdo em si, mesmo isoladamente. O fato é que eu sempre quis começar uma crônica assim. Consegui.

Regozijado, agora, ao ver um desejo realizado, sigamos adiante. Dia desses, acabou calhando d’eu assistir no cinema, pela segunda vez, o filme “Quebrando o Tabu” (Brasil/EUA, 2011, direção de Fernando Grostein Andrade). O motivo que me levou ao repeteco fílmico foi episódio singelo – aliás, os motivos que nos levam à ação costumam ser de ordem singela, no sentido de coisa “simples” e não de fato “inocente, ingênuo”, porque isso já é outra história e cá não apetece aprofundar.

Bem, o lance é que eu precisava escrever breve artigo sobre o panorama do cinema documentário brasileiro contemporâneo. E aí, compadre, é que são elas: descortinar conteúdo desta natureza de maneira sucinta não é fácil. Tem que deixar muita coisa de fora. É por isso que continuo em vias do traçado e ainda não terminei o texto. Mas, para estas linhas, que ora se produzem, importa afirmar que o filme citado não poderia ficar ausente de comentários.

“Quebrando o Tabu” pretende ser documentário sério, sobre assunto de imensa relevância: a maneira como os governos e as sociedades tratam a questão das drogas. O filme discute, sobretudo, a descriminalização dos entorpecentes e as maneiras não-violentas de combatê-los. E atinge o seu objetivo de maneira convincente, na medida em que faz com que o espectador reflita sobre o assunto. Para isso, utiliza-se de alguns recursos de linguagem que a estrutura documental vem desenvolvendo há algumas décadas: entrevistas, textos, computação gráfica, animações, arquivos. O excesso de música incomoda, mas não atrapalha o conteúdo que, afinal de contas, é o que verdadeiramente interessa.

A narrativa é ora capitaneada, ora pontuada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que percorre alguns países, como Estados Unidos, Holanda, Portugal e Suíça para revelar como estas nações tem tratado a questão. Por inúmeras vezes, no decorrer da película, nós, espectadores, somos lembrados que descriminalizar é diferente de liberar. As propostas nacionais, com maior ou menor grau de acerto, visam combater o traficante e ajudar o usuário, principalmente se ele for dependente, uma vez que, neste caso, os auxílios médico, social e psicológico são necessários.

Outras participações ilustres não faltam ao filme, como os ex-presidentes norte-americanos Bill Clinton e Jimmy Carter, o médico Dráuzio Varella e o escritor Paulo Coelho. É interessante ouvir relatos diversos, que vão dos dependentes desconhecidos às celebridades formadoras de opinião. Também é bom saber que o FHC, aos 81 anos, está envolvido em tema urgente, plenamente disposto a contribuir na discussão – como tenho visto em seus últimos depoimentos –, a fim de que encontremos caminho lúcido para assunto problemático, que vem destruindo a vida de muita gente, desde os tempos de nossos pais.

Até a próxima, bicho.


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Em tempos de precocidade máxima

Um sujeito me procurou outro dia com um material curioso: um curta-metragem produzido por seu filho. Apresentando-se como advogado trabalhista apaixonado pela Sétima Arte, o homem pedia que eu assistisse à obra do herdeiro, para que pudesse ajudá-lo a orientar o guri quanto ao caminho a seguir, no que diz respeito aos estudos de cinema. Essas coisas acontecem com quem leciona no meio audiovisual e, até aí, tudo bem. É inerente ao ofício. Mas, na maioria das vezes, a gente desconversa, pede desculpas, diz que irá dar uma olhadela quando tiver um tempinho e assim vai. A verdade é que quase ninguém tem tempo e/ou disposição de assistir tudo aquilo que pedem que a gente veja. É esse o fato. No entanto, o sujeito era simpático e educadamente insistente. Ao meio e ao cabo, acabei me rendendo à sua solicitação e assistindo ao filme.

O curta do garoto, feito em miniDV com recursos modestíssimos, jamais passaria de interessante, se o autor não fosse exatamente isso: um garoto. De treze anos! E aí, não teve jeito: coloquei-me a pensar nesta questão.

A questão é: o simples fato do garoto ter feito um filme, ou vídeo, como queiram (embora fazer qualquer coisa nesta área nunca seja propriamente simples), já é, em si, algo relevante. Legitima qualquer esforço. O diretor norte-americano Sidney Lumet (1924 – 2011), já dizia em seu livro “Fazendo Filmes” (Ed. Artemídia Rocco, Rio de Janeiro, 1998): “o primeiro filme de um diretor basta por si só”. Ainda que o termo “diretor” evidentemente não possa ser aqui aplicado, é notável o fato de um menino escrever um roteiro, decupá-lo, acender um refletor, montar um tripé, enquadrar uma câmera, gravar um vídeo com vários planos e cenas, e editá-lo, instintivamente, sem qualquer subsídio e contando apenas com a ajuda de alguns amigos.

A reflexão não se extingue aqui. Ao contrário, inicia-se. Esse garoto é o exemplo de como a nova geração está se relacionando com o cinema hoje, quer seja no tocante ao acesso a filmes para consumo particular, quer seja na absorção das possibilidades de realização audiovisual.

Este panorama contemporâneo é causa e efeito: as novas mídias, aliadas aos modernos mecanismos de veiculação/exibição de conteúdo, têm possibilitado que parte da população (ainda que pequena), desde muito jovem, trave contato com som e imagem, inserindo-se naturalmente neste sistema de consumo/produção/promoção. Além disso, o meio audiovisual evoluiu dentro desta lógica de ação e reação: a produção cinematográfica brasileira cresceu imensamente na última década, despertando o interesse de uma significativa parcela da nova geração, nas grandes e médias cidades, antenada aos novos veículos de comunicação, que permitem rápido acesso à informação e que, por sua vez, têm feito surgir a necessidade de capacitação, gerando assim escolas e cursos de cinema, capazes de colocar no mercado jovens ávidos em produzir e que, por sua vez, se aproveitam e/ou criam espaços para distribuição daquilo que produzem. Ufa, a última frase ficou enorme... Mas é possível que traduza a urgência do pensamento. E tudo isso sem falar nos mecanismos de incentivo – leis, editais, concursos –, em âmbitos federal, estadual e municipal, que também têm contribuído na construção desta realidade. Como resultado, temos um enorme volume de curtas-metragens sendo realizados nos últimos anos. Basta verificar as mostras e festivais nacionais: grande parte das obras inscritas e selecionadas nos últimos eventos têm, como autores, jovens realizadores, capazes de articular discursos atraentes, utilizando-se de técnica e gramática audiovisuais com consciência.

Traçando um escopo, percebe-se facilmente um cenário auspicioso, no tocante à formação de novos realizadores e técnicos.

Em um meio tão concorrido, onde os equipamentos/serviços de filmagem e de pós-produção são, desde sempre, bastante onerosos, saber que a formação de mão-de-obra e o interesse pelo nosso cinema é uma realidade pululante entre os jovens, deixa-nos otimistas quanto ao nosso futuro cinematográfico. Obviamente, ainda há muito que caminhar. Proporcionar a uma gigantesca parte da população a inclusão digital deve continuar como meta. Mas parece-me que, neste sentido, o Brasil caminha. De maneira lenta, mas caminha. Sigamos então.


[Artigo publicado na Revista do Cinema Brasileiro, em 19/07/11]

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Elucubrações de um insatisfeito

Não faz muito tempo, agorinha mesmo, escutei na CBN que as obras de reforma do Mineirão estão sob suspeita e serão investigadas. Parece que está rolando por lá muita falcatrua... Oops, mas por que raios duplos e triplos eu não fiquei surpreso com esta minha última frase? Vai ver que é porque no Brasil ética e honestidade não sejam lá coisas a serem levadas em conta... Ai, ai, lá vamos ficar outra vez passivos com a roubalheira neste país.

Segundo o radialista, cujo nome não me lembro, o custo da obra, que visa melhorias no estádio para a Copa do Mundo de 2014, assumiu cifras exorbitantes. Procês terem uma ideia, de acordo com a reportagem, só o valor pago na contratação de um escritório de arquitetura para criação de um projeto de reforma foi algo em torno de 17.500.000,00. Cês estão entendendo os números? Dezessete milhões e quinhentos mil reais para um projeto de reforma – eu disse “reforma” – do Estádio Magalhães Pinto. Para efeito de comparação, o escritório de Oscar Niemeyer – eu disse “Niemeyer” – recebeu 3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais) para criação do projeto original da Cidade Administrativa. Amigos de todas as cores, credos e gostos: um projeto original quatorze milhões de reais mais barato que um de reforma, feito pela turma do mais famoso arquiteto brasileiro. Vou voltar minha fita K7 e repetir: um projeto arquitetônico inédito, não estou falando agora de projeto para melhorar o que já existe, como no caso do conhecido templo futebolístico, onde o Cruzeirão, o Atleticão e o Americão já mandaram milhares de jogos.

Os valores aqui citados foram pronunciados pelo repórter radiofônico da CNB, o que não me deixa crer que ele estivesse mentindo. E tem mais um detalhe: segundo ele, a contratação milionária do escritório deu-se sem licitação. Diacho, danou-se de vez, agora tô besta!!! É por estas e outras que Shakespeare estava certo: “Há algo de podre na República Federativa do Brasil”. Sim, porque se ele conhecesse o Brasil, não teria escrito a tragédia “Hamlet” com ambientação no Reino da Dinamarca. Aliás, nosso paraíso tropical seria o lugar ideal para as suas tragédias.

Às vezes penso que nós, brasileiros, temos mais é nos ferrar. Em país dominado por embusteiros – e muitos deles, nós mesmos elegemos –, todo mundo tem mais é que se estropiar. Não é possível tanta pilantragem! A gente tem que dar o grito, pombas! Dá até vontade de xingar à beça. Mas os termos exatos que gostaria de escrever – e muito o mais que precisava vociferar – não o faço, pois, parafraseando o Almeida Reis, sou de uma pudicícia que encanta e comove.

Mudando de pato para ganso (puxa, até parece que tô falando de jogadores de futebol), só faltou o cisne... Quer dizer, não é isso, tem nada a ver com o assunto, me embananei com a quantidade de anseriformes citados na frase anterior. Mas tudo bem, como sei que é do conhecimento de todos nós desde o nascer, anseriforme é uma ordem de aves aquáticas que contém 161 espécies distribuídas por 48 gêneros e 3 famílias. O pato, o ganso e o cisne são representantes legítimos desta patota, que costuma se dar bem na água e, mais recentemente, nos gramados de futebol.

Pronto. Descobri porque cheguei às aves: é que estava eu falando das ladroagens que estão rolando no Mineirão, onde o Pato e o Ganso algum dia jogarão.

No mais, até a próxima procês todos.

segunda-feira, 30 de maio de 2011





o que é isso que soa bem longe?



amor!



o vento e a chuva nas vidraças, amor meu!




(inspirado em Lorca)


domingo, 29 de maio de 2011

Não almocei pensando em você, não jantei pensando em você.
Agora não consigo dormir, porque estou com fome.

terça-feira, 24 de maio de 2011

sábado, 21 de maio de 2011

É nóis ôtra vêiz

No Rio de Janeiro, de novo. Talvez seja a primeira, dentre as últimas dez vezes, que venho à Cidade Maravilhosa apenas a passeio. Nada de trabalho. Só diversão e arte para qualquer parte... Momento bom para rever amigos que aqui se instalaram e apreciar uma praiazinha, tomando um solzinho maneiro acompanhado daquela geladaça! O motivo da vinda? Fácil: o show do Paul! Como fã de McCartney e fã do Rio, decidi juntar os dois fanatismos e cá aportar três dias antes do espetáculo. Afinal de contas, curtir a vida é bom e eu agradeço.

É curioso imaginar (todas as vezes que aqui estou penso nisso) como uma metrópole muito maior do que BH City, com frota de veículos imensamente mais numerosa, tem um trânsito menos agarrado que a Capital das Alterosas. Por que isso se dá? Quem é o responsável pelo caos? O projeto original de BH, datado do final do séc. XIX? A população? O avanço econômico? Os políticos? Aqueles que deveriam gerenciar o trânsito? Vai ver, uma junção de tudo isso e mais. De concreto (e há pesquisas que confirmam), temos o trânsito belorizontino como o menos solidário do Brasil. Se alguém duvida, tente dar uma setinha, na esperança de conseguir passagem de uma faixa a outra e veja se algum horizontino (que no trânsito nada tem de belo) será a capaz de deixá-lo passar. Arrisque fazer uma simples conversão e veja se alguém terá o bom senso de ceder espaço. Sujeito acelera pra não ver você à frente dele, como se estivéssemos numa disputa por uma merda qualquer, em meio ao caos. Enfim, é assim, entre as montanhas. Aqui no Rio, ainda que a falta de educação também exista, pelo menos, não há a BHTRANS.

Essas coisas são terríveis. Pensar nisso me deixa violento como Hagar, o Horrível. Por que tive que citar a política? Diacho, sou daqueles que acham que política deve ser como futebol: se o técnico não está dando certo, manda-se embora e contrata-se outro. Às vezes, consegue-se assim evitar que as coisas piorem e, até mesmo, rebaixamentos dados como certos... Brincadeira. Na política isso não funciona. Os “treinadores” são por nós eleitos. Política é coisa séria, desde a Antiguidade. Lamentavelmente, ela hoje é o oposto do que pensava Platão, quando assumia que a política era a arte que curava a alma e a tornava o mais virtuosa possível. A política coincidia com a filosofia, e um Estado deveria ser fundado sobre os valores do bem e da justiça. Pois é, depois dessa, é melhor não comentar o que é a política nos tempos atuais...

Quanto ao futebol, bem, de todas as coisas sem importância o futebol talvez seja a mais importante. É por isso que nos cabe ligar a tevê, pois o Brasileirão está começando.

No mais, ainda sobrou um tempinho aqui, mesmo com os raios solares no Leme durante a tarde com amigos e o bondinho em Santa Tereza à noite com estes mesmos amigos, de assistir, após tudo isso, ao filme “Os Agentes do Destino” (“The Adjustment Bureau”, EUA, 2011, direção de George Nolfi, com roteiro baseado num conto de Philip K. Dick, estrelado por Matt Damon e Emily Blunt). História instigante, sobre tema curioso.

Ao final, saí do Roxy influenciado, pensando se o encontro com a belíssima morena que conhecera algumas horas antes, na praia, entre os amigos e com quem reencontrara no jantar, que culminou no passeio de bonde – e cujo charme absoluto abalroou minha atenção e meu pensamento (até agora não penso noutra coisa senão nela) –, já não era algo traçado por um destes agentes do destino. Tomara. Ah, tomara...

Até a próxima.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Uma (di)versão sobre o amor

Que o amor tem várias formas, isso já sabemos. Que os caminhos para o amor podem ser tortuosos, é igualmente conhecido. Que não existe fórmula para o amor perfeito, também é de se supor. Fato é que, em se tratando do assunto, tudo é possível e, às vezes, provável, ainda que dentro de inúmeras improbabilidades.

Refletir sobre o assunto faz com que pensemos sobre a vida, de maneira mais ampla. O amor não se restringe aos pares, mas a um conceito irrestrito de existência. Vive verdadeiramente quem ama – a si mesmo, a família, os amigos, o próximo, o trabalho, a natureza, as coisas que o cercam. A Deus. Desnecessário, pois, afirmar que o amor é o sentimento mais profundo e verdadeiro, embora seja possível que algumas pessoas amem de maneira, digamos, pouco convencional.

Sobre isso se pode discutir. Pode-se, inclusive e necessariamente, escrever. Poetar (há quem diga poetizar), pintar, compor, levar ao palco. E por que não filmar?

Foi pensando assim que o roteirista Michael Konyves decidiu adaptar para o cinema o livro “Barney’s version”, do escritor canadense Mordecai Richler que, por sua vez, utiliza-se de Barney, seu personagem principal, para moldar uma caricatura de si mesmo, em sua relação com tudo aquilo que o cerca. Seguindo e finalizando esta esteira, coube ao diretor Richard J. Lewis levar a história à tela grande.

O filme “A Minha Versão do Amor” (“Barney’s version”, Canadá, 2010) coloca-nos em contato com o já citado Barney, um sujeito neurótico, politicamente incorreto, boêmio e profundamente enamorado. Como resultado, temos aquele tipo de personagem que teria tudo para ser desprezado, mas acaba adorado, devido às suas imperfeições. Por isso, o filme diverte e comove, conta-nos sobre vida e morte, desejos e medos, amores e paixões.

O norte-americano Paul Giamatti elabora uma das melhores construções dramáticas dos últimos anos no cinema. Ator dos mais versáteis, Giamatti é capaz de mudar do riso às lágrimas num instante, com extraordinária precisão. Sua performance atinge momentos sublimes, quer seja na juventude ou na senilidade do personagem. A seu lado, em aparições pontuais no decorrer do filme, temos um Dustin Hoffman impagável, no papel de pai do protagonista, confirmando sua fama de um dos maiores intérpretes de Hollywood.

Barney é um cidadão incapaz – é completamente inapto em ser “correto”, o que lhe confere dimensão sensível. Torna-se inevitável pensarmos que o ser humano se constrói através de seus inúmeros erros e de suas enormes dúvidas. Faz com que ponderemos sobre a possibilidade de que todas as pessoas podem ser potencialmente boas, capazes de amar, ainda que alguns se deixem levar por pensamentos mórbidos e atitudes atrozes.

As impressões de cada espectador sobre o enredo podem variar, mas é difícil escaparmos àquela sensação de inexorabilidade do tempo. Assim, o que vale realmente a pena são as coisas mais singelas, ou ainda o prosaico da existência, sem necessidade de brilho e espalhafato.

Até a próxima.

segunda-feira, 28 de março de 2011

De lembranças, cevadas y otras cositas más...

Parece-me que ando meio nostálgico. Pois não é que ontem fiquei saudoso, ao ter com amigos num bar no 2º andar do Maletta e, no som do ambiente, imperava soberana (eis aqui um pleonasmo: quem impera é soberano, pombas! – ah, deixa pra lá, vai, fica assim mêrmo!) a música “Menina Veneno”, gravada pelo Ritchie, eu acho e desconfio que lá pelos idos de 1983? A canção composta pelo próprio Ritchie, em parceria com Bernardo Vilhena, foi sucesso estrondoso naqueles tempos hoje longínquos. Minha pessoa engatinhava os primeiros passos de uma adolescência que seria conturbada à beça e a bessa. Mas isso é outra história. Das boas, diga-se de passagem. Dá até roteiro bom de filme... Importante foi que a música embalou os sonhos de um bando que criaturas jovens pra dedéu, que começavam a descobrir o sexo, as drogas e o rock’n’roll. As drogas conseguimos deixar pra lá, graças ao bom Deus, mas o resto segue aí, firme e forte, na ponta da tabela e da preferência pessoal.

Naquela época, imaginávamos que no ano dois mil os carros flutuariam e muita gente moraria em bases lunares, pra fugir do crescimento desordenado das cidades. As pessoas se vestiriam de maneira quase cibernética e na Terra haveria uma chuva ácida constante (influência do filme “Blade Runner”, de Ridley Scott, estrelado por Harrison Ford, Rutger Hauer e Sean Young). Putz! Pensar que os dois mil já estão ficando distantes e que muita coisa continua bestialmente atrasada. O caos no trânsito e a violência desmedida não são mais ficção; estão aí, pra todo lado, ao desgosto do freguês. Pra piorar, a honestidade – algo supostamente antigo, que deveria ser pilar da humanidade – parece esquecida. Pois se nem a tal da “ficha limpa”, pra impedir que canalhas desprezíveis nos governem, a gente consegue aprovar... Foda, meu!

Deixa pra lá, de novo. Apenas por ora. Noutra ocasião falamos disso... Então, voltemos, pois, à guria peçonhenta do início. Estávamos sentados à mesa do bar, musiquinha rolando no razoável equipamento sonoro e cervejinha Sol mexicana geladaça rolando goela abaixo. Na letra da canção que pairava no ar, a frase: “um abajur cor de carne”. Pô, meu, essa passagem é massa. Inevitável a pergunta: “qual será a ‘cor de carne’, que o cantor inglês naturalizado brazuca se refere com tanta propriedade?” Os palpites rolaram, no que deu pra perceber que cada um tem a sua “cor de carne”. Teve um que soltou: “bom, se for carne de frango, é branquinha, branquinha”. Falta de graça, velho! E eu pensando numa coisa rosadinha, fofinha, bonitinha. Foi-se embora meu devaneio com a ideia do frango vulgar, encarnando o candeeiro chique. Mais surpreendente ainda foi outro comentário: “eu vejo carne de onça”. Cuño, joder tío, pero... carne de onça?! Um abajur cor de carne de onça! Alguém me diga: como é a carne de onça? Não conheço. Ainda mais com campanhas e campanhas de preservação da natureza e tanta carne domesticada à disposição. Pode ser que a pessoa tenha pensado numa enorme onça furiosa entrando no quarto e dilacerando os amantes, que ali estavam em sua privacidade sublime, a ponto de deixar o abajur emplastado com os restos do casal. Pois é: uma cena trash, de gosto duvidoso.

Mas, enfim, não sei, só sei que foi assim, parafraseando o Chicó de “O Auto da Compadecida”.

No mais, ao meio e ao cabo, até a próxima procês todos. Saravá.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma cro-cro-crônica

Outro dia mesmo fui ao Grande Teatro do Palácio das Artes assistir à peça “Chico Rosa”, escrita e dirigida por Jair Raso. Era a terceira vez que assistia ao espetáculo desde a sua estréia, alguns anos atrás. Bela montagem, bons intérpretes, texto inteligente e muito boa música! O centenário de Noel Rosa, ocorrido em dezembro do ano passado, proporcionou o retorno aos palcos e a estréia de espetáculos, shows e homenagens país afora. E mais importante: permitiu uma revisitação à obra de Noel, um dos grandes gênios na música brasileira.

Dentre as ótimas músicas de Chico Buarque e Noel Rosa executadas na peça, estava o samba “O Gago Apaixonado”, composta por Noel em 1931. Na letra, logo no início, o sujeito fala: “eu de nervoso tô fi-ficando gago”. A música eu já conhecia, mas nunca havia parado para escutá-la. Saí do teatro, cheguei em casa, procurei no youtube, pus pra tocar e botei reparo. Genialidade do mestre Noel: canção divertidíssima, com letra, ritmo e melodia excelentes.

O que acontece com o gago é isso mesmo que o samba diz: quanto mais nervoso, mais gago. Fiz pesquisinha breve na Internet e descobri que a gagueira atinge cerca de 75% das crianças entre dois e quatro anos, quando estão começando a pronunciar as palavras. Eu mesmo, em fase de garoto e na adolescência, gaguejava às pampas. Esta desordem na fala, entretanto, costuma durar pouco nas crianças, coisa de meses. Mas, se a pessoa torna-se adulta gaguejando em demasia, aí é quase sempre necessária uma ajuda terapêutica.

É exatamente este o pretexto do filme “O Discurso do Rei” (“The king’s speech”, Reino Unido, 2010). O filme do diretor Tom Hooper revela a dificuldade do rei inglês, George VI, pai da atual rainha Elizabeth, em falar. Gago ao extremo e desesperançoso quanto a solução do seu problema, o rei precisa urgentemente encontrar alguém que o ajude, sobretudo porque a 2ª Guerra Mundial está em vias de começar e o monarca tem a obrigação de fazer um enorme discurso pelo rádio, para toda a nação.

É grande a aflição causada pelo filme. Mesmo antes de assumir o trono, o nobre tem lá suas obrigações de falar em público – e a coisa sai sempre muito mal. Daí o fato de o monarca passar a ter aquela constante sensação de que não foi feito para reinar. Desta dúvida nasce uma das reflexões do filme: para se tornar um bom governante, é preciso mais que oratória invejável. É preciso caráter. E isso o rei demonstra ter de sobra.

Outro aspecto reflexivo da película fica por conta da questão da discriminação: se o cara não pertencesse à família real, seria gradativamente enjeitado do convívio social, como se fosse portador de algo contagioso.

A direção de Tom Hooper, as interpretações de Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush e demais atores, aliadas aos outros elementos fílmicos, resultam em uma obra instigante e necessária, especialmente hoje, quando ironizar os defeitos alheios é muito mais comum que tentar compreendê-los.

Até a próxima.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

E a água continua caindo...

Enquanto a chuva não para, lá vamos nós, caminhando janeiro adentro. Fosse apenas a precipitação, estava tudo bem. Ficaríamos como Gene Kelly em “Cantando na Chuva”. Mas não há leveza neste momento. É lastimável saber do estrago que as águas estão fazendo por aí, sobretudo na região serrana do Rio de Janeiro. Não dá pra passar incólume; ver tanta destruição tira a gente da passividade. Emociona a quantidade de mortos e de pessoas que perderam absolutamente tudo – parentes, casa, móveis, objetos pessoais. Vidas inteiras que se foram na lama, nos escombros. Aqueles que puderem doar algo, que o façam, com urgência. Procurem onde possam ser deixados mantimentos e roupas. Nestas horas, a solidariedade talvez seja o único remédio para amenizar tanto sofrimento.

Todo ano, nesta época, é a mesma coisa: muita água caindo. E a impressão que temos é que piora a cada verão. Estarrece o fato das autoridades responsáveis, nos âmbitos da federação, dos estados e dos municípios tentarem remediar que antes prevenir. Se já sabemos que será sempre assim, por que não procurar resolver antes que a catástrofe ocorra? Tenta-se explicar a omissão com o fato de que se vai gastar muito reassentando as famílias que vivem em áreas de risco e que não há recursos suficientes para isso. Mas não é preciso ser especialista no assunto para saber que se gasta muito mais depois da tragédia. A solução não é fácil; nada, em se tratando de milhares de famílias em risco (o que significa milhões de cidadãos), é fácil resolver. Mas o novo governo tem a obrigação de tentar. Questão de prioridade nacional. Ou será que em 2012 acontecerá o mesmo?

Não dá pra brincar com o assunto. Deixemos de lado o tradicional e prosaico bom humor que se espera da crônica pra pensar seriamente em nossa fragilidade perante os reveses da natureza. Aliás, não são tratam de ações reversas; a natureza não muda o jogo. Nós é que cunhamos a instabilidade e criamos os problemas, por questões sociais, econômicas, políticas, religiosas. A construção e a destruição são de nossa responsabilidade. Façamos, portanto, o que precisa ser feito.

Até a próxima.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Uma prosinha pra encerrar o ano

Fim de ano tem sempre aqueles papos de retrospectiva: gente se lembrando do que de bom aconteceu; dos principais assuntos que estiveram em pauta através do senso popular; dos fatos que mais chocaram; dos amigos e das celebridades que se foram; dos eventos que poderiam ter ocorrido mas não se passaram. É momento, enfim, de refletir – orgulhar-se daquilo que valeu a pena, aprender com o que deu errado e seguir adiante.

Dois mil e dez foi um ano difícil. Assim mesmo, por extenso. Mas, como ainda não acabou, fica aqui no gerúndio: está sendo um ano complicado, de trabalho e esperança – a mãe de todas as coisas. Copa do mundo de futebol; eleições para presidente, senadores e deputados; guerra nos morros; violência às pampas nas ruas e no trânsito; amores e desafetos; sorrisos e lágrimas; conquistas e derrotas, e muito mais, ao gosto do freguês. Os periódicos impressos e eletrônicos que o digam.

Como não cabe aqui falar de tudo o que se deu – aliás, não cabe em lugar algum: faltaria espaço e conhecimento de causa –, foquemos numa ou noutra coisinha de cunho cultural.

Os 113 aninhos de Belo Horizonte foram recentemente comemorados com show na Praça da Estação, em dia chuvoso. A mesma praça que, para muitos, virou “praia”, com calções, tangas e biquínis, em protesto pelas atitudes inacreditavelmente medíocres do atual prefeito, impingidas à área cultural. Trapalhadas colossais da Fundação Municipal de Cultura, como a tentativa de acabar com a edição deste ano do FIT – Festival Internacional de Teatro Palco e Rua, não impediram que a cidade abrigasse grandes eventos no decorrer do calendário. O Festival do Cinema Independente, o Festival Internacional de Curtas-Metragens, o Cine BH, o já citado FIT, o Festival Internacional de Teatro de Bonecos, o Festival Internacional de Dança, a Feira Música Brasil, inúmeros shows bacanas e incontáveis outros eventos (muita coisa merecia ser citada, mas o espaço é limitado) abrilhantaram nossa agenda cultural. Faltou o Paul dar o ar da sua graça por aqui, mas é duro reconhecer que a cidade não dispõe de recinto para o ex-Beatle se apresentar, com o Mineirão fechadão para reformas, visando a Copa de 2014. Aliás, será esse um dos principais assuntos nos próximos três anos e meio, mesmo depois do fim do mundo, em 2012...

Em 2010, o cinema nacional viu o surgimento da mais monstruosa bilheteria e do mais agigantado público para um filme tupiniquim em território brasilis: o “Tropa de Elite 2”, do diretor e produtor José Padilha. Um mérito inegável, onde a tríade tema + investimento + publicidade funcionou como nunca. E diga-se mais: o filme do Padilha coloca em questão um assunto polêmico, que divide opiniões e que boa parte da população conhece ou desconfia: o envolvimento de políticos com a milícia dos morros e com o tráfico. Pois é, política e fatos escusos costumam dar histórias, as mais terríveis. Ao final da sessão, a percepção de quem assiste ao “Tropa de Elite 2” segue quase sempre a mesma direção: do asco e da revolta. Numa análise direta e sem delongas, um filme bastante propício para anos de eleição.

Vou ficando por aqui, senão o bicho pega. Que 2011 seja para todos repleto de realizações e, sobretudo, de amor, saúde, felicidade e paz. O resto a gente corre atrás.

Que Deus nos ilumine.

Até a próxima.

domingo, 5 de dezembro de 2010

neeenseeee!!!

 
tricolor de coração!!

 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Encontrei por acaso este texto, que publiquei em 2008, por ocasião da final da Libertadores. Porra, nem me lembrava! Foi dolorosa a derrota naquele ano. Uma derrota épica, como dizia Nelson Rodrigues. Mas, vá lá, Nelson: estas linhas abaixo, meu caro e famoso tricolor, dedico a ti.


ELEGIA TRICOLOR

Dor no peito, respiração ofegante, coração disparado, cabeça a mil... Parecem sintomas de alguém muito enfermo. Um moribundo. Talvez não. Talvez sejam sintomas de alguém apaixonado. Ou de alguém que vive, que vibra, que reflete uma paixão. Côncava, convexa. Talvez sejam os sintomas que, em algum momento deste dia - dois de julho de dois mil e oito - sinta o torcedor tricolor. Milhões de peitos, pulmões, corações e mentes ligados por um único ideal: ocupar o degrau mais alto do futebol deste canto de cá do mundo, comumente conhecido por América do Sul. Sou verde, sou vermelho, sou branco. Sou de todas as cores do meu tricolor, sou de todas as cores da América! A 19 dias de completarmos 106 aninhos, somos hoje crianças. Garotos cuja paixão tem três cores, cujo orgulho se levanta e nos faz bater a mão ao peito com o clamor de nosso "sou tricolor de coração". É pouco, não sou tricolor de coração. Sou tricolor dos pés à cabeça!! Que nossos fernandos, gabriéis, thiagos, luízes, césares, aroucas, darios, washingtons, dodôs e cia. estejam iluminados. Que a rede adversária balance. Balance. Balance. E já basta. Que joguemos com o verde da esperança, pois quem espera e luta sempre alcança.

Saudações tricolores!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Palíndromos são palavras, números ou frases que se podem ler indiferentemente da esquerda para a direita e vice-versa, sempre com o mesmo sentido.

Para quem não tem o que fazer, vão aí uns palíndromos:

›› A Diva em Argel alegra-me a vida.

›› Anotaram a data da maratona.

›› Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos.

›› O romano acata amores a damas amadas e Roma ataca o namoro. [esse é phoda!]

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O começo do fim da magia

E eis que a saga do bruxinho Harry Potter chega em seu episódio final nos cinemas. Quer dizer, no penúltimo capítulo, pois o último livro da série foi dividido em dois filmes. A primeira parte do fim entrou em cartaz em Beagá City no dia 19 de novembro, em 33 salas. Tornou-se a maior estréia da Warner Bros. no Brasil. A película, baseada na obra literária da inglesa J. K. Rowling, levou 1 milhão e 300 mil brasileiros aos cinemas no fim de semana de estréia, assumindo o posto de filme mais visto no país em apenas três dias de exibição.

O longa-metragem, dirigido pelo também britânico David Yates e estrelado pelos jovens Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson, está em mais de 900 salas no Brasil. Nos Estados Unidos, “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1” estreou em 4125 salas e registrou 24 milhões de dólares apenas com as sessões inaugurais da meia-noite.

Estatísticas impressionantes à parte, a série fílmica inspirada nos livros da escritora nascida sob o nome de Joanne Rowling merece o sucesso que vem fazendo desde o primeiro filme, “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, de 2001. A propósito: em 2004, a moça tornou-se, aos 39 anos, a primeira pessoa a ficar bilionária (em dólares) vendendo livros.

Tirando acusações de plágio, jogando no lixo os alfarrábios oportunistas com temas semelhantes e mandando às fogueiras os processos impetrados na justiça por puritanos imbecis que têm o despautério de afirmar que a história desperta nas crianças a curiosidade pela bruxaria (e daí se despertar?), o que essa autora inglesa conseguiu é prodigioso. O extenso enredo, dividido em sete livros, é capaz de encantar crianças, jovens e adultos. Ao falar sobre magia, bruxos, seres míticos e/ou imaginários, amizade, determinação, superação, sacrifício, luta do bem contra o mal, amadurecimento, amor, etc, etc, o universo de Harry Potter consegue tocar aquilo que a maioria das pessoas alimenta dentro de si: a fantasia. Não importa a idade, mas o sonho – que pode ser entendido como aquele desejo intenso e vivo capaz de suprir o que falta a muita gente em seus cotidianos.

Não é de hoje que a raça humana deseja viver aventuras fabulares, descobrir novas realidades, superar desafios arrebatadores. As lendas arquetípicas do Ocidente e do Oriente antigos apresentam-nos anseios similares. Parafraseando o texto inicial da série “Jornada na Estrelas” (“Star Trek”), criada por Gene Roddenberry para a tevê, de estrondoso sucesso a partir da segunda metade dos anos 1960, o que muita gente quer é “audaciosamente ir onde nenhum homem jamais esteve”. Mesmo para aqueles não muito afeitos às experiências arriscadas, ainda assim, o mundo de Harry Potter encanta e seduz por ser simplesmente “mágico”. Inconsciente coletivo, talvez.

Aos adultos, a história permite sensação de frescor, por colocar-lhes em contato com algo guardado na memória. Às crianças, dá vontade de ser aqueles garotos e garotas, com varinhas mágicas e muitos apertos, no enfrentamento de perigos. Meus filhos eram crianças quando o primeiro filme da saga foi lançado. Hoje, crescidos, são capazes de falar com propriedade sobre cada um dos filmes, o que gostaram ou não, os momentos que lhes fizeram sonhar e – por que não? – crescer. Mais fascinante ainda é perceber que o papai aqui fica tão ou mais entusiasmado que eles, para assistir à nova película.

É por isso que cá estou, escrevendo sobre algo que ainda não vi. Mas há tempo. Esperemos as filas nos cinemas diminuírem.

Até a próxima.

sábado, 13 de novembro de 2010

rock´n´roll

 
Best Company
 
Alex Abreu Valle: vocal
Ernesto Abreu Valle: guitarra
Cláudio Costa Val: baixo
Duarte Fonseca: bateria

 

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Tudo ao mesmo tempo agora

Tem época em que tudo agarra. Vejam como são as coisas: vivo às vésperas do encerramento do prazo para finalizar a minha monografia de pós-graduação – que, obviamente, ainda falta a maior parte –; ando atolado de coisas no trabalho, sobretudo com uma pilha de contas sobre a mesa, que insiste em ficar me olhando feito besta; estou em plena mixagem de uma música boa à beça e a bessa (faltou modéstia aqui) e me encontro no limite para entregar esta belíssima crônica (outra total ausência de modéstia). Por isso e por tudo o que existe e o que há, neste exato momento, enfurnado me encontro num quarto de hotel em Curitiba para dar conta do recado. O motivo de estar na capital paranaense, sentindo um friozinho legal? Sim, sim, claro: neg(ócio). Deu pra entender? Explico: trabalho, mas com dose de prazer. Aí é bom, costuma ser. Mais objetivamente, cá me encontro por ocasião do Festival Internacional de Cinema Super 8 de Curitiba. Tive dois filmes aqui selecionados e pai que é pai não abandona suas crias, ainda que elas sejam feitas apenas de celulóide. E convenhamos, melhor assim que ficar cultivando celulite... Essa foi péssima, eu sei.

Pois bem. A razão da lengalenga acima obviamente diz respeito ao título desta crônica. Quando intitulamos um texto, visamos chamar a atenção daqueles que potencialmente podem dispor de um tempinho lendo-o. Quanto mais chamativo, mais leitores. Mas agora é que são elas: quanto menos a ver com o tema a ser discorrido, mais enganação. Tudo, porém, tem um propósito. Querem ver?

Vocês sabem – ou se lembram – o que é “super 8”? Seguindo o ditado daquele filósofo que diz que escrever sem ensinar é perda de tempo, façamos uma pequenina viagem histórica.

Inicialmente denominado por 8mm, formato de película inventado pela Eastman Kodak Company na primeira metade do século passado, o super 8 é um tipo de bitola que tinha como objetivo a viabilização de filmes caseiros, com baixo ou nenhum orçamento. O formato atual do super 8 (em cartucho) foi apresentado ao consumidor em abril de 1965. Desta época até fins dos anos 70, o super 8 ganhou popularidade, chamou a atenção de muita gente, que adquiriu câmera, cartuchos e projetor para filmar viagens, fazer registros familiares e criar seus pequenos enredos ficcionais e documentais, exibindo-os em casa depois de filmados. Com o surgimento do vídeo-cassete no início da década de 80, a pequena bitola cinematográfica foi, aos poucos, deixando de ser utilizada pela maioria. Mas, mesmo com as mudanças significativas do mercado audiovisual nos últimos 30 anos, novas gerações de cinegrafistas, com projetos de filmes e aplicações que não existiam nos anos 60, passaram a aceitar o filme pequeno. Muitos dos grandes cineastas e fotógrafos de hoje, que começaram suas carreiras há décadas, também passaram pelo super 8.

Espero que este rápido passeio pela história recente da imagem em movimento tenha sido para vocês agradável. Para mim, foi cinematograficamente ótimo.

Aproveito o assunto e já faço propaganda do novo filme do diretor e produtor J. J. Abrams (o mesmo da série “Lost”), que deverá ser lançado em breve. O título é sugestivo: nada mais, nada menos que “Super 8”. É esperar e conferir.

Até a próxima.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mas isso não vem ao caso...

A propósito de estarmos às vésperas da eleição e, ao mesmo tempo, nada a ver com isso, refugiei-me no cinema. Meu Deus, veja como são as coisas: talvez, a breve citação textual que acabei de tecer quase organicamente ao pleito de 03 de outubro, reflita minha desesperança na maioria dos candidatos alegóricos que tenho visto desfilando por aí, nos veículos de comunicação. Faço, na verdade, pouquíssimas exceções no tocante a bons “politicáveis” (candidatos a políticos, como é de se supor o sentido do termo aqui forjado). Mas não cito nomes, porque acho que belas crônicas não devem propagandear esse ou aquele cidadão, ainda que possam estar imbuídos de boas intenções.

Voltemos ao cinema sem delongas. Onde parei? Certo, certo, no ato de refugiar-me numa sala de exibição. É isso? Sim, sim. Pois então, eis que dois eventos sensacionais aconteceram recentemente em Belo Horizonte, um grudado no rabo do outro. Mal se finalizou o “Indie.10” – Mostra do Cinema Independente, em seu décimo ano de existência, iniciou-se o “Imagem dos Povos” – VI Mostra Internacional Audiovisual. Em ambos os casos, filmes excelentes na programação, oriundos de diversos países, que sintetizaram uma extensa gama de possibilidades estéticas e narrativas para o cinema contemporâneo.

Embora o argumento destas linhas seja a sétima arte, a razão de ser de todos estes caracteres passa longe disso. Reside num diálogo, que me veio à lembrança e que é digno de figurar num roteiro cinematográfico. Acho que a história foi assim:

Uma bela mulher estava sozinha numa mesa de bar. Pode ser que fosse em Santa Tereza, mas nada posso garantir quanto a isso. O fato é que a beldade ali estava, tecendo suas elucubrações. Talvez até pensasse naquele motorista de ônibus por quem se apaixonara no dia anterior. Quanto a isso, também nada comprovo. Atesto, apenas, que um sujeito aproximou-se da moçoila, quebrando-lhe o silêncio interior.

SUJEITO – Não quero importunar, mas qual o seu nome?
MOÇA – E pra que quer saber?
SUJEITO – Ora, as belas coisas da vida merecem ser conhecidas.
MOÇA – Que cantada barata!
SUJEITO – Melhor assim. Pra certas coisas, não há preço mesmo.
MOÇA – Que horror!
SUJEITO – Me diz o seu nome, vai.
MOÇA – Não tô a fim. Por que você não vai cantar em outro terreiro, hein?
SUJEITO – Não existe por perto outro que valha a pena.
MOÇA – Então finja que eu não tô aqui.
SUJEITO – Mas eu sou um péssimo ator...
MOÇA – Será que você não percebe que tá sendo inconveniente?
SUJEITO – Eu só gostaria de saber o seu nome.
MOÇA – Ângela. Pronto, falei! Agora vai embora.
SUJEITO – Certo, eu vou. Mas antes, Ângela, você poderia me dar um cigarro?

A moça lhe entregou o cigarro e o sujeito foi-se mais que depressa. Conclusão: para toda demonstração de interesse há sempre uma intenção escondida.

É isso! Está aqui porque me lembrei da política.

A moça do bar. Encara?

domingo, 12 de setembro de 2010

A cura

"Ao mesmo tempo que a revolução social e econômica é indispensável, esperamos todos uma revolução da consciência que nos permitirá curar a vida" [Antonin Artaud]

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

é...a.s.s.i.m.


que história é essa?
o que acontece
quando a gente bate o olho e se interessa
instantaneamente por alguém?
química, alquímica, metafísica?
trama do acaso?
coisa de cinema?
.........................no cinema.
e agora?
agora, um par de dias pensando.
........deixa passar,
........deixa rolar.
ver se chega a hora.
.
ou não.
........nunca?
.........................sempre!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Eu tive um sonho...

Esta noite eu tive um sonho. Puramente real. Acordei com a sensação de que a realidade era uma mentira. Na verdade, ao despertar, pensei que ainda estivesse dormindo.

Se você assistiu “A Origem” (“Inception”, EUA, 2010), do roteirista, diretor e produtor inglês Christopher Nolan (“Batman – O Cavaleiro das Trevas”, “O Grande Truque”, “Batman Begins”, “Amnésia”) irá perceber que o primeiro parágrafo diz muito sobre o filme. Se ainda não assistiu, não perca mais tempo dormindo: acorde e corra para o cinema!

“A Origem” é, seguramente, um dos melhores lançamentos cinematográficos do ano. Ainda que o roteiro parta de um argumento mirabolante – sobre o qual Nolan não explica as entrelinhas de sua inspiração –, o diretor consegue, como poucos, manter o espectador grudado na tela. Se você piscar o olho, já era: algo interessantíssimo foi perdido. É bem provável que o efeito hipnótico do filme seja obtido exatamente pelo que o enredo traz de estranheza, num emaranho de informações estonteantes.

A película fala de um assunto recorrente na obra do jovem diretor inglês: a obsessão. De uma maneira ou de outra, suas histórias sempre perpassam o tema. Desta vez, a questão se implanta, se fortifica e se define através dos sonhos.

Leonardo DiCaprio, excelente como sempre, é o líder de um grupo especializado em invadir os sonhos alheios, roubando-lhes segredos. Mas a empreitada se revela perigosa, quando o bando é contratado para executar algo que supostamente ainda não havia sido feito. Para complicar as coisas, há também o fato de que DiCaprio tem um segredo. Algo aprisionado em seu subconsciente, que precisa se libertar e que pode colocar em risco toda a sua equipe.

Indo além do efeito espetacular alcançado pela mise-en-scène genial de Christopher Nolan, o filme discute uma questão milenar que ainda hoje não apresenta resposta definitiva: o que são os sonhos? Eles têm poder transformador? Eles são capazes de definir os valores, os desejos, a vida de uma pessoa? Eles podem mudar o destino? Aliás, existe destino?

O filme não pretende trazer respostas a quem o assiste, mas o princípio é lançado: pensamento, palavras e ações. É essa a tríade – não necessariamente nesta ordem – que define, transforma e redefine o ser humano. Não há outro caminho para o homem e para aquilo que cada um deseja a si mesmo e aos outros. Assim, o final da história pode não ser idêntico a cada espectador – ou, pelo menos, a sensação que ele proporciona.

Se você é daquele tipo que às vezes acorda achando o sonho muito mais real que a realidade, e o real bem mais onírico que o sonho, talvez encontre em “A Origem” algo que lhe ajude a (in)compreender minimamente algumas perguntas sem resposta. Também é bem provável que nada encontre e, embora o ceticismo possa a isso levar, você, ainda assim, terá a chance de sair do cinema achando a vida um enorme, complexo e maravilhoso sonho.

Até a próxima.

"A Origem" ("Incepcion", EUA, 2010)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vai uma mordidinha aí?

Os gaúchos Kleiton e Kledir Ramil já diziam na “Canção da meia-noite”: “um vampiro, um lobisomem, um saci-pererê”. Segundo eles mesmos, uma música anormal, recheada de seres noturnos, decantados em harmonia, ritmo e melodia.

Devíamos ter ficado com eles. Mas não, tínhamos que ir adiante. Precisávamos ir ao cinema. E agora? Pois é, lá fomos ver “Eclipse”... Bem feito! Quem mandou?

“Eclipse” é o terceiro filme saga “Twilight”, adaptado do livro honômino de Stephenie Meyer e dirigido por David Slade, um jovem britânico diretor de vídeo clipes. Sorte do saci-pererê, que ficou fora da história. Para o vampiro e o lobisomem, coitados, um terror! E para o público, a mesma coisa: horror! Não no sentido de gênero fílmico, mas no tocante a ser ruim mesmo.

O filme é daqueles que só agrada a garotada, devido a seu romancezinho rocambolesco, cujas peripécias amorosas do triângulo protagonista acaba, para nós, virando um grande pé no saco.

Vamos aos fatos: Edward Cullen é o vampiro vegetariano bonzinho de cabelo penteadíssimo, que anda durante o dia, acompanhado de toda a família Cullen. O cara é apaixonado pela jovem Bella, mas é “das antigas”: só quer saber de transar com a moça humana, ainda virgem (!!), depois de casar-se com ela – leia-se transformá-la em vampirazinha. A rapariga, por sua vez, está doidinha querendo. Pra complicar, seu amigo de infância, Jacob Black, um jovem lobisomem que passa quase todo o tempo de dorso nu, exibindo seus músculos acadêmicos, também está enamoradíssimo por ela. Obviamente, a beldade se vê dividida: o vampiro casto, ariano, educado, de sangue literalmente frio (ora, o sujeito é um morto-vivo, pombas!) ou o homem-lobo, nervosinho, bronzeado e halterofilista?

Pronto. Temos aqui quase toda a história. O filme fica rigorosamente nisso. Um porre dos infernos. Há ainda uns vampiros malvados, liderados por uma chupa-sangue maluca e vingativa, mas nem vale a pena aprofundar nisso aí.

O problema de uma historieta como “Eclipse” não é a invenção mirabolante. Recriar, reescrever, recontar algo que já existe pode ser bacana. A questão aqui vem bem antes disso, uma vez que os paradigmas são pessimamente reconfigurados. Vampiros e lobisomens são seres solitários por natureza. Os homens-lobo quase nunca podem ter amantes, pois, a cada lua cheia, metamorfoseiam-se, colocando em risco a vida da própria amada. Para os vampiros, a realidade é ainda pior: obrigados a viver eternamente apenas durante a noite, vivem, portanto, "meia-eternidade". São predadores, forçados a chupar sangue para se manterem vivos. Temos aqui aquilo que podemos chamar de maldição: a imortalidade ao preço da impossibilidade do amor e da convivência coletiva.

A busca pela juventude eterna é coisa alquímica. A questão “renovação do sangue pelo assassinato em troca de vida muita longa” traz à baila questões filosóficas e até mesmo fisiológicas. Será possível? Mas o preço a se pagar não é alto demais?

Recontar histórias, cujas lendas remontam ao antigo Egito, ou advindas de qualquer época e local, pode mesmo soar interessantíssimo. Mas colocar vampiros de purpurina, caminhando de dia, comendo vegetais, vivendo amores intensos e sendo caras muito legais, faz com que o negócio deixe de ser maldição e se torne uma benção. Agora eles são anjos. Aí fica fácil, qualquer um topa a parada. Eu mesmo fiquei doido pra virar um morto-vivo. Há vampiras de plantão por aí a fim de me dar uma mordidinha?



quinta-feira, 1 de julho de 2010

fragmento da carta enviada ontem aos amigos do meio audiovisual de campo grande:


Pensar, falar, criar, filmar!! Produzir. E aí me ponho a divagar que o audiovisual é uma tradução do real sob a ótica de uma lente enquadrada, angulada, movimentada e que sem esta lente o mundo perderia um pouco a sua perspectiva de questionar o factual e o imaginário e que entre erros e acertos o que importa é a vontade e a necessidade de construir algo lúdico e concreto e que a vida é um filme que cabe a cada um de nós construir o seu roteiro e criar o final e que depois podemos nos sentar em um bar e discutir como poderão ser as cenas de nosso cotidiano na filmagem do dia seguinte... Ufa! Descendo a ladeira... Mas, deu pra entender, né?
:
:
................."o grilo procura no escuro o mais puro diamante perdido"
:
:
...................................há quem procure o que procurar
:.:
.............há aqueles que procuram esquecer
.
.
:
......eu, entender..............não há o que entender.......há que viver.
:
:..ser.
.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

a-m-a-o-c-s-d-o-e-d-a-m-f-d-d

a madrugada alimenta os corpos sedentos de orvalho e desmorona as mentes famintas de desejo

. .. ... .... ..... -

t.e.n.h.o.f.é.
t..e..n..h..o..f..o..m..e..
t...e...n...h...o...d...o...r...
t....e....n....h....o....t....e....s....ã....o....
t.....e.....n.....h.....o.....t.....u.....d.....o.....q.....u.....e.....e.....u.....q.....u.....i.....s.....e.....r......
e-n-a-d-a-a-p-e-r-d-e-r

gozo

rasgou a saia,
jogou-se ao chão.

descabelou-se.

depois, levantou-se
e sorriu para a lua.
não penso como pensam os ciclopes
que já nascem sabendo seu destino
a vida sem fronteiras
os equívocos, os acasos
isto sim
é o que imagino como fim

domingo, 13 de junho de 2010

Enfeite


De uma vez por todas: não posso ver mulher com aquele pequeno enfeite no cabelo, de ladinho. Acho lindo. Feminino.
Mulher!
Uma borboleta, uma flor. Meu Deus!
Eu que só a pouco havia me dado conta, percebo a cada dia o quanto gosto e o quanto me encanta e o quanto me assusto quando vejo e penso que não é por acaso e que agora sei que as coisas não são como queremos, mas como são. Simplesmente são.
Olho para as minhas mãos e penso o quanto seria bom se elas pudessem colocar em teu cabelo outro enfeite.
Ou menos, apenas dar-te de presente uma pequenina borboleta ou uma flor vermelha.
De pano ou do que seja.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

definitivamente, para você...


Definitivamente eu gosto de falar e de me encontrar com você.
É quase como admirar uma cena bizantina e contemplar em seguida a Capela Sistina.
Uma explosão dos sentidos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Filme de protesto

Dois amigos se encontram num bar. O primeiro, já sentado à mesa, está relaxado como quem parece satisfeito com a vida. O segundo, que acaba de chegar, demonstra-se revoltadíssimo, com ânsia de protestar. Uma câmera acompanha de perto o amigo que chega.
_ Que cara é essa, meu?
_ Ah, velho, tô puto!
_ Puto com o que?
_ Sei lá. Só sei que tem coisas que me incomodam.
_ A mim também.
Pequena pausa.
_ Tô fazendo um filme de protesto.
_ Quando?
_ Agora. Olha a câmera aí.
O amigo 1 olha para frente, para os lados e não vê a câmera, que se encontra rodeando a mesa.
_ Tá vendo não?
_ Não.
_ Essa é boa. Ele não vê a câmera. Então, ninguém vê. Uma câmera invisível... É, tô fazendo um filme mesmo. De ficção.
O amigo 1 observa o amigo 2 com estranheza, como se este estivesse louco.
_ Cara, tá tudo bem com você?
_ É claro. Tá bebendo o que?
O amigo 1 mostra-lhe a garrafa de cerveja, como se a pergunta tivesse sido o máximo em obviedade. O amigo 2 se dá conta.
_ É, tem razão. Idiota demais a pergunta. Moça, me traz um copo, por favor.
Uma mulher aproxima-se imediatamente, como se já estivesse a postos, trazendo um copo lagoinha vazio e outro cheio com algo de beber. O amigo 1 se espanta.
_ Uau, que rapidez!
_ Ela é atriz, contratada para fazer meu filme. Tava fora do quadro, esperando a deixa. Senta aí, moça.
A mulher senta-se. O amigo 1 aprova e sussurra:
_ Gata.
O amigo 2 faz que não ouviu e indaga a moça:
_ Escuta, tá sabendo que vai ter cena de beijo, né?
_ Estou.
_ E isso te incomoda?
_Depende. Se houver um motivo, não vejo problema. Se for coisa gratuita, acho bobagem.
_ Tem razão. Se bem que, em filme de protesto, tem beijo?
A mulher assusta-se:
_ Seu filme é protesto?
_ Você não sabia?
_ Não, olha só, escuta: se seu filme é protesto, eu tô fora.
_ Mas, por que?
_ Por acaso vocês sabem o que é um protesto? Quer dizer, um protesto mesmo, que valha a pena ser dito por alguém e escutado por outrem?
Os dois homens fazem cara de que não estão compreendendo. A mulher prossegue:
_ Caras, protesto é quando você não concorda com alguma coisa e age contra isso.
_ Mas isso todo mundo sabe – retruca o amigo 2.
_ Sabe nada! Pouca gente se importa com as coisas que hoje são dignas de protesto. Um filme de protesto acaba sendo assistido por uma parcela mínima da população. E isso é culpa de quem? Do espectador ou daquele que fez o filme? Hein?
O amigo 1 parece ter a resposta:
_ Do distribuidor.
_ Do exibidor – completa o amigo 2.
_ Da conjuntura sócio-cultural-político-econômica – arremata o amigo 1.
_ É, o problema pode estar nisso tudo também. Mas o fato que é um filme de protesto tem que ter conteúdo. Tem que valer a pena produzi-lo, distribuí-lo, exibi-lo e assisti-lo – argumenta a mulher.
_ Mas um filme de protesto é fundamental! É por isso que tô fazendo um – afirma orgulhoso o amigo 2.
_ Ótimo. Faça-o. Mas em protesto, eu não quero participar dele.
_ Mas...
A mulher levanta-se:
_ De qualquer maneira, valeu o convite. Boa sorte.
_ E a cena de beijo? – indaga o amigo 2.
_ Vocês dois podem fazê-la. Vai ficar ótimo.
A mulher sai. Os homens entreolham-se, estupefatos. O amigo 1 matuta:
_ Será?
O amigo 2 espanta-se:
_ Sai fora, cara! Olha a ideia do sujeito... Quer saber: cansei. Em protesto, também eu desisto. Corta!

E assim, acaba a história. Até a próxima.

domingo, 25 de abril de 2010

Homem do bem


“A história de um homem não cabe em um filme”. Esta frase é o que primeiro aparece em “Chico Xavier, o Filme” e bem ajuda na compreensão da obra, uma vez que o objetivo é um recorte na vida do homem Chico, em três de suas fases – infância, juventude e maturidade –, e menos em sua obra mediúnica. Dirigida pelo experiente Daniel Filho, a película é o maior sucesso de estréia da história do cinema brasileiro. Com poucas semanas em cartaz, o filme já detém uma das maiores bilheterias nacionais. Prova da notoriedade de Francisco Cândido Xavier. Tal sucesso comprova que somos uma nação cujo espiritismo alcança enorme popularidade.

Entretanto, não é preciso ser espírita nem tampouco conhecer parte da doutrina iniciada na França por Allan Kardec em 1857, com a publicação de “O Livro dos Espíritos”, para entender a simpatia que Chico Xavier possui nos quatro cantos do país.

A obra de Chico é um impressionante exemplo que podemos ter do sentido de missão. O médium, no decorrer de sua vida, desenvolveu isso obstinadamente, mostrando como um único homem é capaz de tornar melhor a vida daqueles que pedem por ajuda.

Falar em missão significa acreditar que cada tem algo a dizer, algo a fazer. Cada pessoa tem um sentido. E precisa encontrá-lo. A missão pode estar na sua casa, no seu trabalho, no seu jardim. A missão pode residir no extraordinário fato do indivíduo querer se tornar alguém melhor, ainda que o termo “melhor” seja por demais amplo e signifique definições particulares, de acordo com o que cada um traça para si mesmo. Porque certo e errado são elementos relativos; de concreto há apenas o que queremos ou não fazer para nós mesmos e para os outros. E é a partir daqui que avançamos e tropeçamos na vida. Nossos pensamentos, palavras e atitudes podem levar-nos a consequencias positivas e negativas. Muitas vezes, afastamos de nós um grande amor, perdemos beijos doces, empurramos para longe pessoas valiosas, perdemos empregos, deixamos de receber abraços e sorrisos porque não pensamos o que devíamos e, consequentemente, exageramos nas medidas, erramos a dose. Não olhamos para nós mesmos e, sem a introspecção, o silêncio, mensuramos mal os fatos e os atos. É esse o principal desafio: voltarmos-nos para dentro, para não sermos privados de alguma coisa. Todos os profetas, médiuns, gurus e mestres espirituais verdadeiros revelam-nos isso.

Chico Xavier faz de sua vida uma experiência de amor incondicional. Olha pra dentro de si mesmo e, a partir deste olhar, exterioriza o bem. Não importa a crença, importa a ação, o gesto de dedicação e amor.


Desta maneira, o filme atinge o seu objetivo. Faz com que o espectador reflita, permite que ele saia da sala de cinema pensando em como a vida é valiosa e como deve ser tratada com atitude e respeito.

Até a próxima.


domingo, 28 de março de 2010

E a cultura foi pras cucuias...

Nos últimos dias, muito tem se falado do cancelamento da edição deste ano do FIT – Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte. Indignados, representantes da classe artística fizeram barulho à frente da Fundação Municipal de Cultura. E não é para menos. A gente tem que dar o berro mesmo! A suspensão de um evento com a importância do FIT, para a formação de público e do pensamento voltado ao fazer artístico, é de um prejuízo sem tamanho para a cidade. Nenhuma desculpa, hipocritamente articulada pela Fundação e seus asseclas, é capaz de justificar tamanha falta de respeito para com aquilo que não pertence a eles, mas à comunidade. Eles acham que nós somos idiotas? Ano de eleição e de Copa do Mundo não implica no cancelamento de outras atividades de igual importância. Chegaram a dizer que o FIT estava sendo suspenso devido à falta de bons espetáculos no mundo. Repito: no mundo! Que tal então se fizéssemos o convite a alguma companhia teatral de Marte, através de um convênio com a NASA?

Há pessoas que são tão levianas que são incapazes de perceber que eventos coletivos, como os festivais, não pertencem a eles, supostos administradores do poder público. E tampouco se prestam a jogatinas políticas. Trata-se de uma conquista de todos. Onde foi parar o debate, o diálogo, a decisão coletiva? Divulgar uma notícia desta magnitude assim, de supetão, sem qualquer aviso prévio, traz de volta aquele desconforto do autoritarismo, fica parecendo conchavo de gabinete. Em qualquer lugar relativamente sério, teríamos reuniões e discussões sobre o assunto, com representantes da cultura, da comunidade e dos gestores do poder público. Mas o nosso atual governo municipal está tendo a capacidade de causar-nos perplexidade. Algumas medidas parecem querer mandar a democratização da cultura para as cucuias. Proibir eventos artísticos na Praça da Estação é outra medida arbitrária, esdrúxula, sem lastro popular.

E aí, tentando reparar o dano depois que a caca foi feita, surge a ideia de se tentar fazer um FIT menor, com uma edição mais enxuta. E o nobre compromisso de se conduzir esta sugestão ao topo da pirâmide, às instâncias superiores da Prefeitura de Belo Horizonte. Quanta bravura. Ficamos emocionados ao saber do compromisso de nossos dirigentes para com a vontade popular. Soa mais ou menos assim: “tudo bem, estou do lado de vocês, meu povo querido, vou fazer o que vocês querem, pois acredito no bem comum”. Tá bom, viu... A pergunta é: por que então, antes de divulgarem a nota funesta sobre o FIT, antes de agirem com autoritarismo, não anunciaram de uma vez que talvez fosse necessário um certo ajuste no Festival? Existe algum problema em se ter transparência, sobretudo quando estamos tratando de algo que vai muito além que o nosso próprio umbigo?

Até a próxima.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cê tá pensando que sou loki?

Ontem assisti ao filme "Loki", sobre o Arnaldo Baptista, com direção de Paulo Henrique Fontenelle. Acompanhado. Ao final da sessão, o silêncio. Durante os créditos finais, durante a saída da sala, numa visita ao banheiro, no caminhar para o carro. Estávamos emocionados, reflexivos. Preenchidos, eu acho. Naquele momento, as palavras não tinham serventia. Ainda agora, penso. Alguém, algum dia, deve ter dito: "Arnaldo, sua vida dá um filme". E deu, cara! Um filmaço. Genialidade, loucura. Vai ver não há muita diferença entre uma coisa e outra. É loki mesmo. Não aquele deus da mitologia nórdica, de mesmo nome. Mas o loki da mente, do corpo, do espírito. Que bom que os lokis existem.


"LÓKI?" – ARNALDO BAPTISTA
(Philips, 1974) – Produção: Arnaldo Baptista


"O disco 'Lóki?' é, até hoje, o disco mais visceralmente revolucionário da música brasileira. Com um instrumental mínimo – teclado (Arnaldo), contrabaixo (Liminha), bateria (Dinho) e backing-vocals (Rita Lee) – (o último encontro dos Mutantes), 'Lóki?', em dez canções, passa a limpo toda a era do rock'n'roll e o que poderia ter sido uma tropicália lisérgica. Sem dúvida, o melhor elenco de canções incluídas em um único álbum."


Fonte: www.arnaldobaptista.com.br


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pausa para a poesia

Pois é, façamos uma breve pausa para a poesia. Então, vamos lá: uma pausa para Shakespeare. Transitando pelo lírico e pelo dramático, sonetos e peças, o genial bardo inglês de vida curta (1564-1616) e obra eterna esboçou a natureza humana em cores, texturas e sons como nenhum outro. Que tal o soneto a seguir?

Soneto #116

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

Adoro isso aí. A propósito: quem tiver a oportunidade de ler parte dos 157 sonetos que formam a série shakespeariana, que o faça. Deguste o texto e sinta a melodia. Shakespeare é música. Qualquer coisa que disser sobre Shakespeare estarei sendo redundante e, por mais imodéstia que exista na parte final do soneto 116, termino por parafrasear Ben Jonson, outro poeta elisabetano, ao concluir que o cara não foi do seu tempo, foi eterno.

Até a próxima.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Realidade e fantasia

Imagine-se num mundo onde tudo seja harmonia, onde apenas a natureza dite as regras e onde os seres que nele habitam convivam em simbiose com o ecossistema. É, parece ficção.

Mas aí, surge o homem. E por ganância ferra tudo, transformando a vida em caos. Ah, essa parte já é real, lamentavelmente. Ducha de água fria, para tirar-nos da ficção e socar-nos na realidade.

Em “Avatar”, o diretor canadense James Cameron (“O Exterminador do Futuro 1 e 2”, “O Segredo do Abismo”, “Titanic”) discute exatamente isso. E pra realçar a estirpe pouco humanizada de alguns seres humanos, a tecnologia futurista de meados do séc. XXII, época em que se passa o enredo, intensifica o nível de crueldade de maneira abissal.

O termo “avatar” é antigo. Deriva do sânscrito “Avatāra”, que significa “aquele, que descende de Deus”. Um avatar seria, portanto, uma manifestação corporal de um ser imortal. Para os hindus, é a encarnação de Vishnu (como Krishna). Muitos não-hindus, por extensão, utilizam o termo para denotar as encarnações de divindades em outras religiões.

Podemos perceber, pela definição acima, que “Avatar”, o filme, objetiva discutir alguns conceitos. Dentre eles: o homem tem noção daquilo que deve ou não deve fazer com tudo que o rodeia? Somos todos parte de uma teia, interligada por energias. Se a quebramos, sofremos as consequências.

Efeitos especiais impressionantes numa versão 3D espetacular fazem do filme de Cameron uma obra imperdível. E melhor: vem em momento propício. Que cada espectador – sobretudo os adultos – perceba que o filme, em toda a sua fantasia, discute a realidade muito mais a fundo do que se pode imaginar à primeira vista.


Até a próxima.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Um certo García Lorca


O fim de ano vem chegando e as celebrações começando: natal e, no meu caso, virada de ano juntinho com aniversário (oh: aceito presentes!). Momento de comemoração, vencemos outro ano. Inevitavelmente, lembramo-nos daqueles que ficaram pelo caminho – todo ano deixa marcas: algumas, pesadas como montanhas. Outras, leves feito plumas.

Fim de ano é momento de traçar metas, assumir responsabilidades para o próximo calendário. Atitude. Precisamos contribuir para a melhoria do planeta, assunto primeiro das pautas daqueles que têm um mínimo de consciência.

Lembrei-me do poeta, dramaturgo e compositor andaluz Federico García Lorca, nascido nos arredores de Granada, sul da Espanha. Assassinado em 1936 no início da ditadura franquista, aos 38 anos, García Lorca tinha voz e preocupação com este mundo. Alguns anos antes de perder a vida brutalmente, chegou a dizer: "O mundo está imobilizado diante da fome que extermina os povos. Enquanto houver esse desequilíbrio, o mundo não poderá raciocinar. Vi isso com meus próprios olhos. Dois homens que se vão à margem de um rio. Um é rico; o outro, pobre. Um com a barriga cheia e o outro que enche o ar com seus bocejos. E o rico exclama: 'Oh, que lindo barco vai passando! Veja essa flor na margem do rio!'. O pobre só pode balbuciar: 'Estou com fome, não vejo nada'. Naturalmente. No dia em que a fome desaparecer, haverá no mundo a maior explosão espiritual que a humanidade tenha jamais visto. É difícil imaginar a alegria que brotará nesse dia".

O autor deu este depoimento na década de 1930. Parece que foi ontem. Que nos sirva de inspiração.

Boas festas. Um 2010 repleto de paz, saúde e realizações.

P.S.: quem quiser conhecer poemas musicados de Lorca, acesse
www.myspace.com/proyectolorca


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

É o fim do mundo!

Essa história de 2012 ser o fim já está dando muito que falar. Também não é para menos. Várias profecias de culturas antigas convergem numa data: dezembro de 2012. Ao que tudo indica, algo muito forte poderá acontecer. Dizem que o calendário Maia, desenvolvido há cerca de três mil anos, previu os eclipses vivenciados atualmente. As previsões eram baseadas nas estrelas e, para cada ciclo de 20 anos, eles chamavam de katún. Para cada katún existe uma profecia. A última delas diz que, no ciclo que se encerra em 2012, terminará o mundo como nós o conhecemos.

A notícia não é das melhores. Mas, fazer o que? Estocar alimento? Realizar até lá tudo o que der na telha? Quitar as dívidas? Tem gente que já deve estar planejando o contrário: fazer financiamentos com prazos de pagamento bem maiores que 24 meses.

Por enquanto, a astrologia apenas confirma que, nesta data, teremos o alinhamento completo de todos os planetas do sistema solar. E mais: além de estarem alinhados entre si, todos eles estarão em fila indiana desfilando no centro da Via Láctea, fato que ocorre a cada 26.000 anos. Há pessoas por aí que suspeitam que isso pode alterar o fluxo magnético da Terra, podendo até fazer com que ela mude seu eixo de rotação, girando para o lado oposto. Vixe, agora deu um certo medinho pensar no planeta girando ao contrário. Isso deve ser bom não.

E como o cinema não pode esperar até lá, naturalmente, eis que mais uma vez surge nas telas o fim do mundo antecipado, para que possamos assisti-lo de camarote, comendo pipoca. Conduzido pelo diretor Roland Emmerich, um especialista em filmes apocalípticos, como “Independence Day” e “O Dia Depois de Amanhã”, “2012” utiliza-se magistralmente dos efeitos especiais. Até aí, tudo bem. Os grandes estúdios fazem hoje qualquer coisa com doses cavalares de realismo. Mas o problema mesmo reside em assistir a um filme de Emmerich – é o fim! Não dá, nem com boa vontade extrema. Os enredos são terríveis. Pavorosos. Além das películas citadas anteriormente, soma-se à sua filmografia “Soldado Universal”, “Godzilla”, “10.000 a.C.”, dentre outros feitos. Difícil encontrar coisa pior com orçamento tão alto. Se bem que podemos considerar isso um mérito: sujeito tem poder de convencimento. E deve render muito aos cofres dos grandes estúdios, obviamente.

Agora, cá entre nós: não precisa ser vidente nem guru pra saber que o mundo não anda bem das pernas. De tudo isso, de um filme desses, fica um alerta: estamos chegando a um momento histórico realmente complicado. Não é difícil perceber isso. Consciência e atitude serão fatores importantes na condução deste século que, já na primeira década, mostrou a que veio. Cada cidadão planetário precisa fazer a sua parte desde já. Inclusive nós, brasileiros. Precisamos do mundo existindo, para que a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 aqui estejam.

Até a próxima.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Rodolfo, o ingrato

Meu iguana fugiu. Ingrato. Rodolfo, o nome dele. Pensar que o alimentei desde bebê, dando-lhe todos os insetinhos que gostava... Quando o ganhei, tinha o tamanho de um calango. Um ano depois, parecia um estrangeiro, recém chegado de Galápagos. O bicho era enorme! Por isso mesmo, as crianças do prédio o adoravam. Fim de semana, lá ia o papai aqui radiante com Rodolfinho na coleira. Dá pra acreditar? Saía com ele à base de coleira. Forte, o bicho; dava solavanco. Primeira vez que a meninada o viu, foi inesquecível. “Alá, mãe, alá: um jacaré! Um jacaré!”. O guri ficou todo arrepiado, seus olhos esbugalharam. E ele ainda fazia: “Uh, uh, sai pra lá, jacaré!”. Teve outro moleque, menorzinho, que disparou: “nó, que largatixão!”. Assim mesmo: largatixão, com o “r” fora do lugar.

Rodolfo era educado. Silencioso que só ele. E o melhor: asseado feito galã de novela da Globo com apartamento na Barra. É isso mesmo: se alguém pensou que confundi asseado com assediado se enganou redondamente. Ou alguma pessoa duvida que os atores bonitões estejam sempre limpinhos? Pois é, meu iguana jamais fazia suas necessidades fisiológicas fora de sua “terrinha” – um caixotão enorme de madeira estrategicamente revestido de areia, com umas plantinhas, uns pedregulhos e um laguinho. Tudo pra deixá-lo “em casa”. Vez em quando lhe dava um surto e ele mexia o rabo gigantesco, fazendo voar areia até as cucuias. Acho que foi por isso que a minha “free lancer” o deixou escapar – se não foi ela, fui eu. Será que a culpa foi minha? Mas como é possível um jacaré fugir de um apartamento, sem ser visto por um mísero ser humano? Falar a verdade, mesmo já tendo passado algum tempo, uma lebre me diz que ele ainda se encontra pelas redondezas, fazendo-se de besta. Vai ver se enrabichou pela cachorra da vizinha. Não me entendam mal: a vizinha não é uma cachorra. Ao contrário, sempre se demonstrou muito certinha e ajuizada. Tem namorado sério e tal. Mas possui uma cadela, que vivia fungando o cangote do Rodolfinho. Depois a cachorra vem achar ruim...

Andei desesperado. Até chamadinha nos Pequenos Anúncios coloquei. Chamadinha mesmo, porque o preço dessas coisas anda bom não. Reflexos da crise. E Rodolfinho me inventa fugir justo agora! Desnaturado, filho de uma... uma... iguana! Lá se foi a minha companhia nos dias chuvosos, bem ao gosto de Noé; ou nos dias de calor senegalês, cada vez mais frequentes. Saudade de um friozinho norueguês. Quando tem de novo? Ibsen, ajude-nos!

Mas, por que tudo isso? Por que dedicar tantas linhas a um réptil? Ora, ora, é simples: a história de mestre Rodolfo daria um belo roteiro para filme. Como também fariam belos enredos o casal de Poodle que hoje abrigo entre minhas paredes, cada vez menos brancas. Sofia e Cabeça, seus nomes. Ou as dezenas de minúsculos peixinhos Guppy, trazidos duma fazenda, que mantenho num aquário de treze litros.

Aliás, pensando cá com meus botões, bicho e cinema sempre combinaram. Cachorros, porquinhos, veadinhos, leões, lobões e ogros sempre renderam belas fábulas. Dá vontade até de saber alguma coisa sobre a evolução das espécies. Mas sobre isso deixo a palavra para o naturalista britânico Charles Robert Darwin, cujo nascimento deu-se há exatos duzentos anos. É isso aí: o homem passa; os bichos permanecem.

Até a próxima.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O personagem tem que se ferrar!


É isso mesmo: o personagem tem que se ferrar. Ou se ferra no começo, ou no meio ou no fim. Mas se ferra. Antes, durante, depois – sempre! Como na vida. Não que estejamos todos irremediavelmente ferrados; todavia, vá lá, durante nossa existência, algumas ferradinhas sofremos. Se saltarmos das páginas reais para o universo da ficção, aí, bicho, é isso: ferrados são os protagonistas. Todos eles. Não existe enredo ficcional em que o personagem não sofra umas poucas e boas. Ou muitas e ruins, como queiram.

O negócio é tão verdadeiro que pode ser traduzido como a própria natureza do drama. Vejam bem: tem graça assistir a uma peça de teatro ou a um filme em que tudo transcorre às mil maravilhas? A coisa ficaria uma chatice. Daí a necessidade de o autor promover inúmeros obstáculos ao protagonista e peripécias na trama.

Se o cidadão é bonzinho, às vezes acontece dele se ferrar no meio da fábula e, ao final, acabar tudo em bem. Se perverso, o sujeito quase sempre se dá muito mal. Não raramente, com requintes de crueldade, tal e qual suas ações durante o enredo. Os filmes estadunidenses que o digam.

Lembrei-me de uma história das mais conhecidas: a tragédia de Romeu e Julieta, escrita por William Shakespeare. Antes de tudo, é importante que se diga: tragédia, em linhas gerais, é uma forma de drama (ação), cuja definição se deriva do grego antigo τραγῳδία, terminologia composta por τράγος ("bode") e ᾠδή ("canto"). Deu pra entender? É provável que não, mas tudo bem. Características marcantes do advento trágico são a seriedade e a dignidade, frequentemente envolvendo um conflito entre uma personagem e algum poder de instância maior, como os deuses, a lei, o destino ou a sociedade.

Mas espera aí, tem mais. Uma das funções da tragédia, segundo Aristóteles, é revelar o tamanho da queda do herói, causando, desta maneira, terror e piedade no espectador, através do reconhecimento da verdade. Algo mais ou menos assim: “vocês viram o que acontece com quem mata o pai e se casa com a mãe? Sentiram o tamanho da ferrada?”. Pois é, fazer isso é mal sapão, muito mal.

Agora podemos voltar ao Romeu e sua bela Julieta. Ou a Julieta e seu charmoso Romeu. Como neste caso a ordem tanto faz, retornemos, pois: o que acontece com os dois? Com ou sem rima, até mesmo quem nunca leu (ou viu) a história conhece o tenebroso final. E por que o destino de ambos é terrível? Ah, porque nós, os indivíduos, somos emoldurados por convenções sociais, políticas, religiosas. Combinações geradoras de conflitos, que podem atingir a magnitude de uma guerra entre nações ou o simples (simples?) ódio por motivo fútil, entre duas famílias rivais. E aí, ferram-se aqueles que não merecem. Shakespeare sabia disso. Nós também. Exatamente por isso, Romeu, desesperado, profere: “sou um joguete do destino”. Em outras palavras: “ferrei alguém e agora estou ferrado”. Não importam o rouxinol nem a cotovia. Não importa se Julieta é o sol. Ele mesmo está ciente: “devo partir e viver, ou ficar para morrer”.

E como nada muda, alguns são perdoados, e outros, punidos. Parafraseando o imortal bardo inglês: assim o fato se deu, e jamais houve história mais dolorosa que esta de Julieta e seu Romeu.

Até a próxima.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

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a febre no peito
.............................o sufoco
a fome, o desejo

o duplo
..............então...

de maiakóski, a dica:
não destruirão o amor, está provado

...por isso, amo solenemente.

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Um lugar de resistência


Há anos não jogo WAR. Pode parecer um tanto fora de propósito iniciar uma crônica com uma frase assim, mas comentários literários que se prezem costumam partir de ângulos obtusos. Bem, bem, esquecendo imediatamente a geometria, aquele tabuleiro, conhecido como o jogo da estratégia, marcou a minha adolescência. E tenho certeza que a de muita gente. Era bom encontrar os colegas e ficar horas encarando-os com olhos de lince, jogando os dados e conquistando territórios inimigos. Mas os anos se passaram e nem sei o que foi feito daquele jogo. Provavelmente o vendi a algum amigo. Ou pior: subtraíram-me a coisa. Sem permissão, é claro.

O fato é que, com ou sem furto, o tal do WAR era um joguinho legal. Lembrei-me dele outro dia, quando fui obrigado a fazer um trabalho de pós-graduação. A tarefa encomendada por um dos mestres do liceu: assistir a uma película argentina e tecer uma bela crítica. Bacana demais, sô.

Lá fui eu. Catei o DVD com o filme. Seu título: “Kamchatka”. De cara, a palavra que o batiza já soa estranha. E qual é o seu significado? Aí está: é essa a pergunta que o diretor Marcelo Piñeyro (“Plata Quemada”, “Histórias de Argentina en Vivo”) inevitavelmente embute na cabeça do espectador que assiste a esta obra de título incomum.


Ambientada numa turbulenta Argentina de 1976, dias após o golpe militar que depôs a presidenta Evita Perón e colocou no poder o general Jorge Videla, a película de Piñeyro aposta em um protagonista infantil, ao fechar o foco no interrelacionamento de sua família e nos consequentes conflitos pessoais, originados pela violenta mudança política do país.

O mais interessante é que o diretor a tudo emoldura com notável sutileza. O filme conta a história de um casal e seus dois filhos, que se vêem obrigados a se esconder num sítio para escapar da ditadura. Harry, o primogênito, não entende a razão da mudança repentina de Buenos Aires para o interior. Alheio à real situação do país, o garoto irá descobrir inúmeras coisas sobre a vida e sobre si mesmo.

Recheada de particularidades, o roteiro de Marcelo Piñeyro e de Marcelo Figueras fala de coisas singelas, advindas tanto do protagonista quando dos outros personagens que colorem o enredo. Os autores não constroem arroubos dramáticos, quiprocós, pontos de virada que redirecionam a história para além da própria relação familiar. Ao contrário, a intenção se apresenta claramente intimista.

Assim, tudo se transforma em algo grande, memorável, até mesmo o simples ato de pais e filhos, juntos, olharem as estrelas. E talvez esteja aqui a grande mensagem do filme: o ato de resistir, de acreditar, com ternura. Mesmo quando tudo parece por demais difícil.

O filme traz, enfim, ao espectador a sensação de que, em momentos extremos, o que todos precisam é de um lugar de resistência. E a isso ele empresta nome e fixa lugar certo: família. A metáfora está no TEG (a versão argentina do WAR), na última partida que pai e filho disputam juntos, antes do clã se romper, vítima do regime político. Pela primeira vez, Harry consegue dominar quase todo o tabuleiro e conquistar 49 das 50 unidades territoriais em disputa. Naquele dia, o único lugar que não pode ser derrotado foi Kamchatka.

Até a próxima.